A educação no Brasil não é uma realidade da qual os brasileiros possam se orgulhar com magnitude. O processo educacional deste país tem sofrido oscilações de aplicação e de vivência absurdas. Não à toa ocupamos o 72° lugar, segundo relatório da UNESCO, no ranking mundial: há quem se orgulhe desta colocação, no entanto, apenas aqueles que vivem a educação do Brasil sabem o que isso significa.
Desde o início de nosso processo educacional, com os jesuítas, religiosos católicos que inauguraram a educação neste país, até os nossos dias, é difícil observar, de modo palpável, crescimentos significativos no que tange ao todo daquilo que se entende por educação. Corremos o risco de ser redundantes, mas, acentuamos, uma visão holística da educação. Essa visão significa também observar a realidade de cada estado, região, as condições econômicas, sociais, religiosas e demais necessidades nas quais estão inseridos. É relevante salientar isso, pois muitos dos modelos educacionais aplicados até então foram pensados segundo um determinado grupo de educadores, ou não, e aplicados uniformemente em todas as federações.
Embora haja momentos de profunda dor na história da educação brasileira, e os historiadores são enfáticos ao relatarem esse processo, há esperanças de um progresso. A última Conferência Nacional da Educação, a CONAE, em seu relatório final, expressa que a educação, pautada na organização de políticas públicas, orientar-se-á quanto às relações étnico-raciais; à educação quilombola; à educação especial; à educação do campo; à educação indígena; à educação ambiental; ao gênero e à diversidade sexual; Em relação a crianças, adolescentes e jovens em situação de risco. A Conferência visa planejar um plano educacional para um prazo de 10 (dez) anos: ou seja, durante o período entre 2011 a 2020. Se forem honrados necessária e precisamente os itens qualificados como relevantes acima descritos e que se encontram no relatório final da Conferência, podemos ter esperanças quanto ao sistema de educação aplicados no Brasil, considerar como verdadeira a afirmação feita no site do PNUD: “O Brasil está em uma posição privilegiada em quase todas as metas propostas pelo Educação para Todos e recebeu elogios no Relatório.” Embora assevere a seguir: “No entanto, a questão da qualidade é um problema. Estamos perto do acesso universal, no entanto, a capacidade pedagógica, o treinamento e o salário dos professores ainda deixa muito a desejar.”
Contudo, as esperanças não podem nos fechar os olhos perante as realidades a que somos submetidos todos os dias. A educação continua em uma situação de decadência e necessita de urgentes reformas institucionais e de aplicação. Prova disto é o último acontecimento divulgado pela mídia brasileira a respeito da prova do Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM. Não bastasse o escândalo ocorrido com prova anterior, em 2009, no qual foram vendidas provas e milhares de estudantes ficaram em situação de prejuízo, também, não podemos desconsiderar, de vulnerabilidade emocional, consequentemente, este ano um novo problema: milhares de jovens novamente prejudicados com a imprecisão e irresponsabilidade na execução da prova. Por “esquecimento” da gráfica, 21.000 (vinte e um mil) provas ficaram sem serem conferidas, proporcionando, com efeito, que questões ficassem sem respostas e outras com dupla resposta. Essa situação beira ao ridículo: o descaso para com o compromisso com a educação toma proporções imensuráveis e o desrespeito pelos estudantes a cada dia é mais visível.
O escândalo do ENEM 2010 fez com que o líder do DEM, Paulo Bornhausen, pedisse demissão de Fernando Haddad, Ministro da Educação, argumentando: “Esse ministro precisa ser demitido. Ele mexeu com uma coisa preciosa que é o futuro da juventude. Os jovens foram ludibriados. Milhões de pessoas apostaram nessa prova o seu futuro, a sua profissão e tiveram que arcar com uma enorme frustração.” A indignação de Paulo Bornhausen tem sua razão de ser: os maiores prejudicados nesta grande confusão serão os alunos que prestaram a prova e que, para isso, dedicaram um enorme esforço de suas vidas e tempo de seus estudos para se prepararem para ela. O que está em jogo neste momento é a credibilidade de tal avaliação, evidentemente, pois ela faz parte já de uma cultura instaurada na sociedade e está envolvida nos meios políticos da educação; mas está na pauta também os esforços dos jovens estudantes que se dispuseram a prestar a referida prova. O Presidente da República não demonstra uma preocupação tão saliente: “Tem muita gente que quer que afete porque até hoje tem gente que não se conforma com o Enem, mas, de qualquer forma, ele provou que é extraordinariamente bem sucedido", assegurou o presidente em Maputo, capital de Moçambique, no último dia 08. Ao fim da entrevista ao jornalista, enfatizou sua afirmação: “O Enem foi um sucesso extraordinário, já que foram mais de 3 milhões de jovens que participaram da prova. O dado concreto é que na conversa que eu tive com o ministro Haddad ontem (anteontem), o sucesso do Enem foi total e absoluto”. Aos leitores cabe a melhor interpretação!
O fato é que injustiças continuam acontecendo repetidamente no meio educacional. A educação pública continua precária e submetida à educação privada. Embora o sistema educacional do Brasil seja o mesmo para ambas as instituições, tanto a pública quanto a privada. Já demos significativos passos em relação a um progresso que possa gerar a vida de nossa educação, mas inda nos falta perceber o cerne desta: o ser humano. Enquanto as pessoas não forem colocadas em primeiro plano nos “planos de governo” a educação não será nunca uma prioridade para a nação; e isso se aplica à cultura, ao esporte, ao laser, à saúde. Não basta estar escrito nos papeis apenas, tem de exercer aquilo a que se propõe: não basta fazer inúmeras conferências e, delas, belos documentos: há, o entanto, que se educar, educar para a educação!
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