sábado, 21 de julho de 2012

A Vendedora de Tabaco


Autor: Luiz de Oliveira Campos

Eu me casei com Janoca
Mas to muito arrependido
Pois ela quando se invoca
Quer dar no meu pé do ouvido
Nem morre nem se ajeita
Nem me quer nem me respeita
Nem me tem como marido.

O diabo da minha esposa
me atazana a toda hora
Pois bebe que só raposa
E fuma que só caipora
E ontem fiquei sabendo
Que a condenada namora

E eu tenho a obrigação
De dar o fumo pra ela
Ela tem um cachimbão
Do tamanho duma panela
E eu tô ficando louco
Porque o meu fumo é pouco
Não enche o cachimbo dela

Quando ela quer fumar
É a maior confusão
Já faz eu me levantar
Já vou com o fumo na mão
Dou o fumo a infeliz
E a condenada inda diz
Seu fumo não presta não.

O fumo bom que eu acho
É o fumo de Zé da Moto
É fumo de cabra macho
Que só em cheirar eu noto
Mas o seu já se venceu
Um fumo como esse seu
No meu cachimbo eu não boto

Se eu vou pescar mais Janoca
Já se dá outra novela
Só quer isca de minhoca
Pra botar no anzol dela
Eu já to me encabulando
Passei a noite caçando
Minhoca pra dar a ela

Quando Janoca era solteira
Ela andava com um bisaco
Vendendo no meio da feira
Alho, pimenta e tabaco
Botão, fumo, agulha e linha
E mais uma cachacinha
Tudo no fundo do saco

Ela vendia tabaco
Na feira de Itapipoca
E quando ela abria o saco
Gritava tem venda e troca
E eu tremendo de medo
Com os homens melando o dedo
No tabaco de Janoca

Hoje como ganho pouco
E ela tem profissão
É fazer sabão de côco
Mais a filha de Tião
Pra nós sair do buraco
De dia vende o tabaco
De noite traz o sabão

Gritava aqui e ali
O meu tabaco é gosto
Quer ver passe o dedo aqui
Pra ver como ele é cheiroso
Os cabras passavam o dedo
Ela dizia o segredo
É o fumo do meu esposo

Eu fiquei quase sem rumo
Porém quando eu era moço
Eu também vendia fumo
Eu e Janoca era um alvoroço
Ela abria o bisaco
Oferecia o tabaco
E eu mostrava o fumo grosso

Um dia sem permissão
Um cabra foi beijar ela
Mas Janoca passou-lhe a mão
Chega entrançou a canela
Porém o cabra era macho
Era Janoca por baixo
E o cabra por cima dela

De tanto quebrar cabeça
Eu já vivo encabulado
Tô doido que apareça
Um cabra desmantelado
Desses da rede rasgada
Que não tem medo de nada
Embora eu fique chifrudo
Mas dava tudo de troca
Pra ele levar Janoca
Com fumo, tabaco e tudo.

***

Por Casey Ryback

Nenhum comentário:

Postar um comentário