Não é de hoje que vemos as pessoas lutarem por mudanças. O ser humano nunca estará completo, e em seu íntimo sempre trará o germe que o impulsionará à insatisfação e ao desejo de transcendência. Entretanto, toda transformação exige sacrifícios, e poucos querem pagar esse preço; pelo contrário, muitos são os sedentos por mudanças, poucos aqueles que abraçam a causa com todo o seu ser.
Vivemos tempos tenebrosos. Não porque sejam escuros, mas porque muitas incertezas pairam sobre nosso futuro. E o pior de tudo, porque nos acomodamos em nossas crisálidas e renegamos a centelha que insiste em manter-se viva em nosso íntimo, ao mesmo tempo em que traimos a nós mesmos e permanecemos na inércia e na acomodação intelectual e social.
Nossa Sociedade está cansada de tanta corrupção, tanta lama, tanta violência. Nosso dia-a-dia acabou por transformar-se na expectativa de quando virá a bala que nos ceifará a vida, tamanha é banalização do valor que dá a este dom sagrado. Estamos cansados de ver corpos ensanguentados em nossas avenidas, ruas, parques, passeios. Em todo lugar o chão está marcado pelo sangue daqueles que descem a escuridão do túmulo. Estamos cansados dos roubos, das extorsões, das lavagens de dinheiro. Mas continuamos de braços cruzados...
Decidimos cruzar os braços diante de toda essa carnificina, enquanto que alguns rebelam-se contra esse vendaval. Um ativismo covarde se esboça toda vez que lutamos por nossos egoísmos interiores e desejamos uma mudança de forma individualista e inconsequente, permeada por interesses próprios e sentimentos escusos e abomináveis. Já não sabemos como protestar e metemos os pés pelas mãos. Se não temos a coragem de mostrar a cara e nos escondemos por trás de subterfúgios, por outro lado quando protestamos não o fazemos da forma certa. Não é depredando patrimônio público nem incitando outros ao caos e a anarquia que veremos nossa realidade transformada.
Os valores que carregamos devem ser mais fortes que os nossos distúrbios mentais e a nossa incapacidade de julgar o certo e o errado; o nosso ativismo deve ser corajoso para que não passe de hipocrisia; as nossas ações têm que ser concretas para que nossos atos não sejam em vão. Precisamos deixar de "pregar aos ouvidos do povo e passar a pregar aos olhos."
É preciso deixar de hipocrisia e sair a luta. De verdade, de cara limpa, dentro da lei. Ou não passaremos de meros rebeldes sem causa, e a mudança que tanto desejamos não passará de uma paixão de adolescente ou pior: venha a se transformar num desejo mórbido e nos consuma sem que possamos concluir com êxito os nossos anseios.
Que possamos sair desse ativismo covarde e hipócrita, e que tenhamos a coragem de mostrar do que somos feitos para que a verdadeira mudança aconteça, e que não sigamos o mau exemplo dos estudantes de filosofia e ciências naturais da USP. Aquilo foi vergonhoso e jogou por terra toda a militância estudantil da época da ditadura.
(...)
Dafoe
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