Augusto Nunes
- Especialista em jogo sujo, Lula aproveitou a reunião com empresários
do Paraná para golpear Eduardo Campos abaixo da linha da cintura. "A
minha grande preocupação é repetir o que aconteceu em 1989: que venha um
desconhecido, que se apresente muito bem, jovem e nós vimos o que
deu", disse o palanque ambulante em 14 de março, agora empenhado em
reduzir o candidato à Presidência pelo PSB numa versão pernambucana de
Fernando Collor.
Uma
semana antes, Campos ressalvara que as críticas que faz a Dilma
Rousseff não se estendem ao ex-presidente de quem foi ministro de
Ciência e Tecnologia. O afago foi retribuído com o pontapé desleal. Como
engoliu em silêncio a comparação ofensiva, pode-se deduzir que o
governador não sabe com quem está lidando. Se não acordar a tempo,
poderá repetir mesmo equívoco cometido por José Serra no início da
campanha de 2010, quando procurou convencer o eleitorado de que Lula e
Dilma não são uma coisa só.
O desfecho da disputa atestou que
fazer oposição à criatura e, simultaneamente, tratar com reverência o
criador é um equívoco desastroso. Passados quatro anos, os que enxergam
mais de um palmo além do nariz sabem que o poste é inseparável de quem o
instalou no Planalto. Sem Lula, não existiria Dilma Rousseff. Sem o
chefe supremo, o PT seria um partido nanico. Sem seu único deus, a seita
estaria condenada à morte por inanição.
Só
a oposição oficial ainda não consegue enxergar no grande farsante o
alvo principal. Sobram em Lula flancos expostos. O que falta é um
adversário disposto a atacá-los sem clemência. Os contragolpes de Campos
poderiam começar, por exemplo, pela lembrança de que Collor foi
publicamente redimido por Lula, em julho de 2009, de todos os pecados
que cometeu, comete e cometerá.
A foto do encontro em Palmeira dos
Índios atesta que os inimigos do século passado revogaram o sentimento
da honra e se tornaram-se amigos de infância. Na campanha eleitoral de
1989, o candidato do PT foi submetido ao que considera "o pior dia da
vida" pela aparição no horário eleitoral de Collor da ex-namorada
Miriam Cordeiro, que o acusou de tentar interromper com um aborto a
gestação da filha Lurian.
Nos anos seguintes, Lula referiu-se
ao algoz como "aquele canalha ladrão". Resolveu virar a página infame
para abortar também a CPI que pretendia abrir a caixa-preta da
Petrobras, lembrou o post inspirado na foto. O apoio do agora senador
Fernando Collor ajudou o presidente a esconder o que se passava nas
catacumbas da empresa estatal. Mas o abraço obsceno foi só parte do
pagamento.
O
preço do acordo foi muito além do simbólico, demonstrou em outubro de
2010 o texto republicado na seção Vale Reprise. O ex-presidente
despejado do gabinete que desonrou também foi autorizado a instalar o
afilhado José Zonis na Diretoria de Operações e Logística da Petrobras
Distribuidora. Com a nomeação do afilhado, pôde dispensar-se de designar
prepostos para missões de grosso calibre na maior das estatais. O
afilhado está lá para isso.
Eduardo Campos também poderia ter
lembrado que os dois nasceram um para o outro. Escancarado pela grossura
explícita, o primitivismo de Lula pode ser visto com nitidez por trás
do falso refinamento de Collor. Denunciado pela arrogância de oligarca, o
autoritarismo de Collor é perfeitamente visível por trás do
paternalismo populista de Lula. Em sua essência, ambos são primitivos e
autoritários. Previsivelmente, lutam lado a lado neste março. Estão
juntos na ofensiva destinada a matar no berço outra CPI da Petrobras.
Os
oposicionistas têm mais uma chance de dar a Lula o tratamento que todo
culpado merece. De novo, ele tenta escapar de um escândalo pelo atalho
do silêncio. É preciso obrigá-lo a recuperar a voz para cobrar-lhe as
explicações que não há. Foi ele quem infiltrou na Petrobras os
envolvidos na história malcheirosa da refinaria de Pasadena. Foi ele
quem premiou José Sérgio Gabrielli com a presidência da Petrobras.
Foi ele quem transformou Dilma em
ministra de Minas e Energia, chefe da Casa Civil e presidente do
Conselho de Administração da estatal. Foi ele quem ordenou que a
refinaria Abreu e Lima fosse construída em parceria com a Venezuela de
Hugo Chávez. Foi ele quem rebaixou a instrumento político a empresa hoje
devastada pela necrose administrativa e pela decomposição moral.
Foi Lula quem forçou a internação da Petrobras na UTI. Chegou a hora de denunciar a nudez do reizinho.
***
Texto do Frei Clemente Rojão, OAAO retirado do seu Blog por Casey Ryback
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