quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Quando os soldados preferem morrer


"A depressão os leva a desertar das fileiras, de forma absoluta, ao estourar a cabeça ou o coração com suas próprias armas."

 
Mauro Santayana 

Em julho passado, revelam fontes oficiais, 38 militares norte-americanos se mataram. Um aumento de mais de 100% sobre os casos de suicídio do mês anterior. Vinte e dois deles se encontravam em serviço. Os demais haviam voltado para casa, mas já não se sentiam em seus lares. Eram outros homens, desfeitos e refeitos pelo horror.

Provavelmente não se sentissem combatentes por sua pátria ou suas idéias, e, sim, meros mercenários, enviados para assassinar em nome de interesses que nada têm a ver com os de seu povo. Salvo nas duas guerras mundiais, quando justa era a luta contra os alemães e o nazismo, os soldados ianques lutam por Wall Street. O genocídio inútil de Hiroxima e Nagasáki, ao manchar com a desonra o combate pelos valores humanos, confirmou os exércitos dos EUA como bandos de pistoleiros do imperialismo.

Os Estados Unidos nunca tiveram que lutar em seu solo, a não ser na Guerra da Independência. Sempre invadiram o solo alheio, a partir da guerra contra o México, em 1846, quando anexaram mais de 40% do território do país vencido. A Guerra da Independência, bem antes, se travara contra homens iguais, da mesma etnia, da mesma fé, e poderíamos dizer, quase das mesmas idéias. O mesmo veio a ocorrer no conflito interno, o da Guerra da Secessão, apesar da crueldade dos combates e a bandeira ética do Norte contra a escravocracia do Sul.

Esse enorme privilégio – o de não conhecer as botas dos ocupantes estrangeiros – transformou-se em maldição. Os militares ianques já não encontram na alma, desde a derrota no Vietnã, quaisquer razões para a luta. Assim, são corroídos pela depressão, ou se transformam em animais, como os que se deixaram fotografar em Abu Ghraid, com seus cães. A depressão os leva a desertar das fileiras, de forma absoluta, ao estourar a cabeça ou o coração com suas próprias armas.

O filósofo espanhol Ortega y Gasset tem uma tese interessante sobre os militares e as guerras. Ele considera o cerco de Granada, pelos Reis Católicos, em 1492 – o mesmo ano da descoberta da América por Colombo – como o fim do soldado que combatia com honra, e o início do soldado “técnico”, que atua como simples extensão de sua arma.

No cerco de Granada, e na vitória que se seguiu, os castelhanos usaram o planejamento tático e estratégico, superando, e em muito, os gregos e os romanos no projeto de suas operações. Segundo Ortega, ali morreu a bravura, e nasceu o combatente moderno, mera máquina de matar, sem honra e sem sentimentos, a não ser os do ódio induzido.

Os soldados americanos que se matam, torturados pelo remorso, talvez sigam o lema que os japoneses inscrevem nos sabres destinados ao harakiri: saiba morrer com honra quem com honra não soube viver. 

Mauro Santayana é jornalista
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Texto e fonte enviados por Leitor dos Críticos. Postado por Ryback

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Desabafo de um Leitor Decepcionado

Caros amigos leitores dos Críticos Intelectuais Reunidos,

   Esse é um desabafo pessoal que deixo hoje pensando em todos aqueles que pensam da mesma maneira que eu. Estou muito triste diante do fato de não ter as devidas condições de fazer o que mais gosto: ler bons livros. E por que? É fato notório: no Brasil, esse artigo é muito caro! Os impostos são altíssimos e fica difícil adquirir novas obras depois de lermos aquelas que com muito esforço adquirimos anteriormente. E um outro agravante, a má vontade nos descontos.

   Só pra vocês terem uma idéia, hoje levei para uma feira de livros a ínfima quantia de R$ 200,00. Tinha a expectativa de trazer de lá no máximo uns 15 livros (por já imaginar o sal dos preços. 10 era o mínimo), mas tudo o que trouxe foram apenas 8 obras. E mesmo assim, das que listei para o acervo, trouxe apenas uma. Pra "lavar a égua!"

   Outro ponto que notei, além dos altos impostos foi a má vontade e o capitalismo ferrenho de algumas lojas. Deus que me perdoe, mas tem umas editoras ditas cristãs que são as mais miseráveis. Não dão desconto em nada. Têm os preços lá em cima (cristãs.kkkkkkkk) e não dão nenhum desconto. Ô povo miseravel esse da Igreja Católica Apostólica Romana (vocês devem saber a quem me refiro) o único desconto que me deram foi de somente R$ 0,10. Aí está a prova (cupons fiscais sem o nome da Loja):

Compra de 4 obras (veja os preços) sem nenhum desconto.

                                           Compra de 2 obras (veja desconto de R$ 0,10)

   As duas obras restantes (completando as 8 obras) não tiveram cupom fiscal emitido, mas ficaram no valor de R$ 80,00 com desconto. Era uma "editora secular" e teve a coragem de dar um desconto de R$ 10,00. Ao contrário da "editora católica".

   E essa é a história e o desabafo que deixo, meus amigos. Além do livro ser caro no Brasil, por causa da carga de impostos, ainda tem loja que não quer perder nada. A grande verdade é que os amantes da leitura tiram "das guelas" por amor a leitura.

   Vou ficando por aqui e deixo meu desabafo e meu protesto. Primeiro contra esse Governo ladrão, que quer ver o brasileiro burro e sem cultura; segundo contra essas editoras cristãs que sangram os nossos bolsos e não se dignam a dar um bom desconto.(Lógico que elas pagam impostos, mas negar desconto aí é o fim da picada)

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Texto enviado por um Leitor e postado por Casey Ryback





quarta-feira, 8 de agosto de 2012

No Mês das Vocações...


Em um mundo anêmico de Deus ...um recado aos sacerdotes*
Do Cardeal Mauro Piacenza, prefeito da Congregação para o Clero, em palestra dada nos Estados Unidos a um grupo de sacerdotes

Dorothy Thompson, escritora americana, decênios atrás, publicou em um artigo para uma revista os resultados de uma acurada pesquisa sobre o famigerado campo de concentração de Dachau. Uma pergunta-chave relativa aos sobreviventes era esta: “Quem, em meio ao inferno de Dachau, permaneceu mais tempo em condições de equilíbrio? Quem manteve durante mais tempo o senso próprio de identidade?”. A resposta foi unânime e sempre a mesma: “Os padres católicos”. Sim, os padres católicos! Esses conseguiram manter-se no próprio equilíbrio, no meio de tanta loucura, porque eram conscientes da vocação deles. Esses tinham sua escala hierárquica de valores. A dedicação deles ao ideal era total. Esses eram conscientes da sua missão específica e das motivações profundas que a levantou. Em meio ao inferno terreno, esses portavam seu testemunho: aquele de Jesus Cristo!

Vivemos em um mundo instável. Existe uma instabilidade na família, no mundo do trabalho, nos vários grupos sociais e profissionais, nas escolas e instituições. O padre, porém, deve constitucionalmente ser um modelo de estabilidade e de maturidade, de dedicação plena ao seu apostolado. No caminho inquieto da sociedade, existe muitas vezes uma interrogação à mente do cristão: “Quem é o sacerdote no mundo de hoje? É um marciano? É um alienado? É um fóssil? Quem é?”. A secularização, o gnosticismo, o ateísmo nas suas várias formas, estão reduzindo sempre mais o espaço do sagrado, estão sugando o sangue do conteúdo da mensagem cristã. Os homens das técnicas e do bem-estar, o povo caracterizado pela febre do “aparecer”, demonstram uma extrema pobreza espiritual. São vítimas de uma grave angústia existencial e se mostram incapazes de resolver os problemas de fundo da vida espiritual, familiar e social.

Se quiséssemos interrogar a cultura mais difundida, perceberíamos que essa é dominada e impregnada pela dúvida sistemática e pela suspeita contra tudo o que concerne à fé, à razão, à religião, à lei natural. “Deus é uma hipótese inútil – escreveu Camus – e estou perfeitamente seguro que não me interessa”.

Na melhor das hipóteses, um pesado silêncio cai sobre Deus; mas se chega rapidamente à afirmação do insanável conflito das duas existências destinadas a eliminar-se: ou Deus ou o homem. Se, então, lançássemos um olhar panorâmico sobre os comportamentos morais, não poderíamos fugir da constatação da confusão, da desordem, da anarquia que reina neste campo. O homem se faz o criador do bem e do mal. Concentra egoisticamente a atenção sobre si. Substitui a norma moral pelo próprio desejo e procura o próprio interesse.

Neste contexto, a vida e o ministério do sacerdote são de importância decisiva e urgente atualidade. Na verdade - deixe-me dizer – que quanto mais é marginalizado mais é importante, mais é considerado superado e mais é atual. O sacerdote deve proclamar ao mundo a mensagem eterna de Cristo, na sua pureza e radicalidade; não deve diminuir a mensagem, mas deve, ao contrário, elevar as pessoas; deve dar à sociedade anestesiada pelas mensagens de certos regentes oculto, detentores dos poderes, a força libertadora de Cristo. Todos sentem a necessidade de reformas sociais, econômicas e políticas; todos desejam que, nas lutas sindicais e no discurso econômico seja reja reafirmada e observada a centralidade do homem e a perseguição dos objetivos de justiça, solidariedade, de convergência ao bem comum. Tudo isso permanecerá somente um sonho, se não se mudar o coração do homem, de tantos homens, que por sua vez renovem as estruturas.

Vejam, o verdadeiro campo de batalha da Igreja é a mundo secreto da alma do homem e nele não se entra sem muito tato, muita compunção, além que com a graça de estado prometida do sacramento da ordem. É justo que o padre se insira na vida, na vida comum dos homens, mas não deve ceder ao conformismo e aos compromissos da sociedade. A sã doutrina, mas também a documentação história que demonstram que a Igreja é capaz de resistir a todos os ataques, a todos os assaltos que possam acontecer contra ela, de todas as potências políticas, econômicas e culturais, mas não resiste ao perigo que deriva do esquecimento desta palavra de Jesus: “Vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo”. Jesus mesmo indica a conseqüência deste esquecimento: “Se o sal se torna insípido, como se preservará o mundo da corrupção?” (cfr. Mt 5, 13-14).

A que serviria um sacerdote assim assemelhado ao mundo, tornado um padre mimetizado e não mais fermento transformador? De frente a um mundo anêmico de oração e adoração, o sacerdote é, em primeiro lugar, o homem da adoração e da oração, do culto, da celebração dos santos mistérios. De frente a um mundo submerso em consumismo, pansexualismo, atacado pelos erros, apresentados nos aspectos mais sedutores, o sacerdote precisa falar de Deus e das realidades eternas e, para podê-lo fazer de modo credível, deve ele mesmo crer apaixonadamente, assim como deve ser “limpo”!

O padre deve aceitar as impressões de ser no meio do meio do povo como alguém que parte de uma lógica e fala uma língua diferente dos outros: “Não vos conformeis à mentalidade deste mundo” (Rm 12,2). Ele não é como “os outros”. O que as pessoas esperam dele é exatamente que não seja “como todos os outros”. Diante de um mundo imerso na violência e corroído pelo egoísmo, o padre de ser o homem da caridade. Das montanhas puríssimas do Amor de Deus, do qual faz uma particularíssima experiência, desce aos vales, aonde muitos vivem as suas vidas de solidão, de incomunicabilidade, de violência, para anunciar a Misericórdia, Reconciliação e Esperança. O sacerdote responde às exigências da sociedade, fazendo-se voz de quem não tem voz: os pequenos, os pobres, os anciãos, os oprimidos, os marginalizados. Não pertence a si mesmo, mas aos outros. Não vive para si e não procura que é seu. Procura aquilo que é de Cristo, isto é, que é dos seus irmãos. Compartilha as alegrias e dores de todos, sem distinção de idade, de categoria social, de facção política, de prática religiosa. Ele é o guia da porção do povo que lhe é confiada. Certamente, não é o condutor de um exército anônimo, mas pastor de uma comunidade formada por pessoas que têm, cada uma, seus nomes, suas histórias, seus destinos, seus segredos.

O sacerdote tem a difícil, mas exaltante tarefa, de guiar estas pessoas com a mais religiosa atenção e com o mais escrupuloso respeito pela sua dignidade humana, seu trabalho, seus direitos, com a plena consciência que, às condições deles de filhos de Deus corresponde em si uma vocação eterna, que se realiza na plena comunhão com Deus. O sacerdote não hesitará em dar a vida, ou em uma breve, mas intensa, temporada de dedicação generosa e sem limites, ou em uma doação quotidiana, longa, no gotejamento de humildes gestos de serviço ao seu povo, direcionado sempre à defesa e formação da grandeza humana e do crescimento cristão de todos os simples fiéis e do inteiro povo seu.

Um padre deve ser ao mesmo tempo pequeno e grande, nobre de espírito como um rei, simples e natural como um camponês. Um herói na conquista de si, o soberano dos seus desejos, um servidor para os pequenos e débeis; que não se abaixa diante dos poderosos, mas que se curva diante dos pobres e dos pequenos, discípulo do seu Senhor e líder de seu rebanho. Nenhum dom mais precioso pode ser concedido a uma comunidade que um sacerdote segundo o coração de Cristo. A esperança do mundo consiste no poder contar, também para o futuro, com o amor de corações sacerdotais límpidos, fortes e misericordiosos, livre, generosos e fiéis.

Amigos, se os ideais são altos, a estrada difícil, o terreno talvez também minado, as incompreensões são muitas, mas tudo podemos n’Aquele que nos conforta (cfr. Fl 4, 13). O eclipse da luz de Deus e do Seu amor não é a extinção da luz e do amor de Deus. Já amanhã aquilo que estava interposto, obscurecendo a fé, colocando o mundo numa escuridão assustadora, poderá diluir-se, e depois da longa pausa, longa demais do eclipse, retornar o sol, pleno e esplêndido. Acima das inquietações e contestações que agitam o mundo, e se fazem sentir também dentro da Igreja, estão em ação forças secretas, escondidas e fecundas de santidade. Acima dos rios de palavras e discursos, dos programas e planos, das iniciativas e das organizações, estão almas santas que rezam, sofrem, expiam adorando o Deus-conosco. Entre esses há crianças e adultos, homens e mulheres, jovens e idosos, cultos e ignorantes, doentes e sadios, e há também tantos sacerdotes, que não somente são dispensadores dos mistérios de Cristo, mas na Babel atual, permanecem sinais seguros de referência e esperança para quantos procuram a plenitude, o sentido, o fim, a felicidade.


*grifo nosso. Este trecho não faz parte do título do texto original.

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Por Saulo de Tarso

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Excertos da Cidadela


Um pouquinho da sabedoria Exuperiana implícita nas suas figurações. Sempre um ensinamento novo, uma reflexão e algo de bom que merece ser lido e guardado.

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A Caravana

“O essencial da caravana tu o descobres quando ela se consome. Esquece-te do ruído vão das palavras e repara: Se o precipício se opõe à sua marcha, ela contorna o precipício, se um rochedo se ergue diante dela, evita-o, se a areia é fina demais, põe-se à procura de uma areia resistente. Mas, de qualquer maneira, insiste sempre na mesma direção. Se o sal de uma salina range debaixo do peso da carga que transporta, tu a vês agitar-se, desatolar os animais, sondar o terreno até encontrar uma camada sólida, mas eis que mais uma vez volta a entrar em ordem e se orienta na direção original. Se uma cavalgadura cai, fazem alto, apanham os baús arrombados, carregam-nos sobre outra montaria, puxam e puxam para amarrá-los bem com o nó da corda rangendo, e depois voltam a tornar o mesmo caminho. Uma vez por outra, morre o que fazia as vezes de guia. Juntam-se em volta dele. Enterram-no na areia. Disputam uns com os outros. Depois, empurram outro para o lugar de condutor e orientam-se uma vez mais pelo mesmo astro. A caravana move-se assim necessàriamente numa direção que a domina, é uma pedra pesada num declive invisível. 

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Postado por Casey Ryback