LXXXVI
E eu ia esmurrar o nariz na porta, pois há épocas em que a linguagem se
revela incapaz de apreender ou de prever seja o que for. Apresentam-me o mundo
como um enigma e depois exigem que eu o explique. Mas não há explicação a dar.
O mundo não tem sentido.
“Temos de nos submeter ou de lutar?” - perguntam-me. É
preciso uma pessoa submeter-se para sobreviver e lutar para continuar a viver. Deixa a
vida seguir. Tamanha é a miséria do dia a dia que a verdade da vida, para se
exprimir, tem de lançar mão de formas contrárias. Mas não te iludas: assim como
estás, estás morto. E tuas contradições, os teus ferimentos e as tuas misérias
são os da metamorfose. Tu ranges e te dilaceras. E o teu silencio é o do grão
de trigo na terra onde apodrece para se realizar. E a tua esterilidade é a
esterilidade própria da tua crisálida. Mas hás de renascer adornado com asas.
Perguntarás para ti próprio, do alto da montanha onde se resolvem os problemas:
"Como é que não compreendi logo?"Como se houvesse algo que compreender...
Cidadela
***
Por James Francis Ryan
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