Estimados leitores, estamos vivenciando um tempo demasiado importante para a nossa sociedade brasileira: o tempo das eleições; e, mais precisamente neste último momento, eleições presidenciais. Não raro nos deparamos, em qualquer lugar, com debates, acusações, contra-acusações, propostas das mais variadas espécies, posições políticas desde as mais necessárias até aquelas mais retrógradas. Argumentos lógicos e indecisos, diretos e tendenciosos, verdadeiros, falsos, diplomatas, escolhidos refinadamente! Por quê tantas variações nas falas de nossos candidatos à Presidência da República? Por quê não há uma linearidade em seu raciocínio e, consequentemente, em sua fala? O que há nos bastidores das campanhas rumo à Presidência?
Para iniciar esta reflexão, gostaríamos de retomar o conceito originário do termo POLÍTICA: o termo remonta à civilização grega. Aquele povo denominava política todas as atitudes dos cidadãos que visavam o bem da PÓLIS. Aristóteles relacionou política à felicidade; à felicidade do cidadão. Há quem ressalte que nenhum povo do mundo antigo contribuiu tanto para a riqueza e a compreensão da Política, no seu sentido mais amplo, como o fizeram os gregos de outrora. Os nomes de Sócrates, Platão e Aristóteles, no campo da teoria, de Péricles e de Demóstenes na arte da oratória, estão presentes em qualquer estudo erudito que se faça a respeito e mesmo nos mais singelos manuais de divulgação. Há obras de cunho mais que relevante tratando desta temática, a saber: Política, de Aristóteles e Político, de Platão. Nestas obras encontramos o conceito originário e verdadeiro que qualifica (ou ao menos deveria), fundamentalmente, a nossa prática política e seu discurso.
Pois bem, não nos parece uma tarefa tão árdua que o leitor já possa, de imediato, observar uma certa diferença, para não dizer ruptura, entre a nossa prática política, bem como o discurso que a sustenta, e a sua originalidade. Talvez os nossos políticos não conheçam Aristóteles e Platão.
Se continuarmos nosso estudo, percebemos que a política, deixando a Idade Antiga e aproximando-se da Idade Média, toma rumos decididamente opostos a sua natureza. É sabido que este período da história é marcado profundamente pelas marcas impressas da religião, mais precisamente, podemos apontar, da igreja Católica Apostólica Romana. Neste momento da história a Igreja já tem a sua ascensão consolidada e já é a religião oficial do Império Romano. Consequentemente, a instituição de maior influência em toda a sociedade e, por isso mesmo, em todos os seguimentos que a compõem: o comércio, a economia, a política, a justiça, a religião, a cultura, as relações pessoais e comunitárias de todos os modos. Em se tratando de política, estas informações nos trazem elementos importantes para compreender os vazios conceituais práticos do campo político moderno, bem como as suas incoerências.
Se a Igreja Católica era a grande influenciadora da época, era também aquela que, autorizada pela monarquia vigente, nomeava as pessoas em quem ela depositava relevante confiança para os cargos políticos da cidade; desde os cargos menores até os de mais alto grau. Mais que isso: esta instituição chegou a tal ponto de nomear, em nome de Deus, por deter o poder temporal e espiritual, os próprios reis de grandes nações com acentuado poder econômico e comercial. Isto implica dizer, e o leitor não tome como exagero, que a Igreja manipulava as decisões políticas, jurídicas e comerciais, bem como as econômicas, de toda a sociedade.
Por incontáveis anos, ou melhor, séculos, a história política permaneceu sob esta situação de intervenção divina, na qual os únicos interesses discutidos eram os privilégios do clero e a sustentação ostensiva da igreja, detentora do sagrado. O povo, os cidadãos, eram oprimidos em nome da fé por uma política sagrada, excludente e hierárquica.
Durante os séculos que se seguem à Idade Média, inicialmente no período do Renascimento, mas também na Modernidade e na Contemporaneidade, inúmeros filósofos se debruçaram sobre a causa da libertação política das forças de uma única instituição, tentando, por vezes, retomar os antigos gregos; em outros casos, modernizar a política, pensando-a em seu próprio tempo, segundo sua liberdade de expressão: afinal, todo cidadão tem livre direito de ser um cidadão político. É necessário que citemos aqui alguns desses pensadores: Giordano Bruno, Montaigne, Kant, Michel Foucault, kierkegaard, Marx, entre outros.
Tendo observado, mesmo que superficialmente, este panorama que apresentamos, podemos perceber alguns dos traços da política neste século. Observamos que o sentido originário de política vem sendo esmagadoramente deturpado durante a história. As influências sofridas durante a Idade Média, até mesmo aqueles padecidos nos últimos séculos da Idade Antiga, foram decisivos no que tange àquilo que hoje nós compreendemos e praticamos politicamente. Os valores foram totalmente substituídos por outros; a ética foi invertida: o sistema que visava o bem da cidade (PÓLIS) torna-se uma investidura irrefreável para a autopromoção econômica e social; a moral torna-se, agora, individual e excludente. Os chefes políticos, consequentemente, são mais sofistas que homens comprometidos com a sociedade a qual se propõem representar e defender: usando de argumentos sofistas, convencem a população com suas falsas e pretensas propostas em período de eleição, o único momento em que o “coelho sai da toca”.
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